Num tempo em que não havia satélites, nem Internet, nem boletim meteorológico, havia um rapaz que afirmava conseguir controlar, através da vontade, o do tempo. Os outros miúdos passavam o tempo a queixar-se do tempo: ora porque fazia muito calor quando queriam passear a pé, ora porque estava frio quando queriam ir à praia, ora porque fazia vento nos piqueniques, ora porque chovia quando queriam jogar à bola. Mas esse rapaz declarava não ter problemas desses. Ele dizia que o tempo se vergava à sua vontade. No princípio ninguém acreditava, mas ele insistia tanto nesta ideia, e estava sempre tão satisfeito com o estado do tempo, que os amigos resolveram tentar perceber o que se passava. O seu truque era simples, dizia ele. De manhã, depois de escolher o que ia fazer, chamava S. Pedro e pedia bom tempo. Os amigos organizaram-se entre eles e decidiram que durante uma semana ficaria sempre alguém junto do rapaz, para verificar como é que isto funcionava. Para aquela semana haviam combinado uma ida à praia, um piquenique e um passeio a pé, só para teste. No dia da ida à praia fazia um frio de rachar. Quando lá chegaram ouviram-no comentar: — Olha que bom, não há ninguém! Hoje podemos jogar à bola sem estar preocupados com outras pessoas. Podemos jogar o tempo que quisermos sem suar em bica. No dia do piquenique levantou-se uma ventania daquelas que levam os guardanapos se nos apanham distraídos, e ouviram-no comentar: — Ainda bem! Com vento não há moscas, e sabe tão bem gozar a brisa...! No passeio a pé choveu, tiveram de se abrigar debaixo de uma árvore, mas assim que a água parou de cair ele chamou- -lhes a atenção para como é lindo ouvir os pássaros cantar depois da chuva, como a terra agradece com o seu aroma, como tudo fica mais verde e mais limpo quando o tempo levanta. Era o último dia da semana. Regressavam da escola quando começou a tempestade. Ainda não chovia, mas os relâmpagos cruzavam os céus e os trovões faziam um acompanhamento sonoro com efeitos surround. Os outros encolheram-se, assustados, enquanto ele sorria. — Costumo dizer à minha irmã que, de cada vez que vê um relâmpago, ela deve sorrir, pois são os anjos a tirar-lhe fotografias. E na “fotografia seguinte” houve sorrisos em todas as bocas.